INTRODUÇAO


Estão escondidos na aurora alguns dos melhores momentos para o contato íntimo com nosso interior. Alvorada – O Despertar da Alma vai revelar, aos poucos, as experiências de 22 pessoas, na busca de estabelecer uma relação mais profunda, clara e amorosa consigo mesmas. Num gesto de boa vontade ao serviço impessoal à vida e de esforço consciente para encontrar a via de serviço do Ser aos demais. Entre nessa aventura, também...

30/03/2008

Compreensão Final: O Agradecimento

"Certo dia, pela hora do almoço, resolvi pensar a quantos deveria agradecer pelo arroz que estava em meu prato e então, mentalmente, comecei a fazer a lista de tudo o que estava envolvido no processo produtivo daquele alimento.

De repente, ainda pelo meio do caminho, fiquei assustada com a quantidade de coisas e pessoas que se entregaram para que eu, naquele momento, pudesse estar usufruindo daquele bem. Só para dar uma idéia, a lista dos agradecimentos era mais ou menos assim:

· devo agradecer à mãe natureza, pela terra;
· devo agradecer ao homem que investiu na compra da terra, mesmo sem saber se daria ou não. Poderia ser que geasse ou desse uma praga que pusesse a perder todo o seu esforço; e também a todos os que trabalharam para limpar o terreno para o plantio;
· aos tratoristas que operaram as máquinas de arar a terra;
· aos que semearam;
· ao sol por ser a fonte que deu a vida à planta e à lua que regulou os ciclos da vida;
· aos que irrigaram o terreno e aos que trabalharam na construção dos equipamentos para irrigação;
· aos que colheram o arroz;
· aos que beneficiaram e ensacaram o arroz;
· ao caminhoneiro que transportou aquele arroz beneficiado até o ponto de venda;
· aos que trabalham no supermercado contabilizando as mercadorias, estocando-as, colocando-as nas prateleiras; à pessoa que trabalha no caixa, ao embalador e outros tantos;
· a mim mesma pela possibilidade financeira de comprá-lo;
· a meus pais por terem se empenhado muito para que, hoje, eu pudesse ter essa condição;
· àquela cozinheira que prepara o arroz;
· aos que extraíram o sal e o beneficiaram;
· a todos os envolvidos no plantio, colheita e transporte e venda do alho e da cebola;
· a todos os envolvidos na produção do óleo de cozinha;
· a cada um dos que trabalharam para que o trator, o caminhão e meu carro fossem feitos, desde o seringueiro que extraiu a borracha da qual se fez o pneu, até os que produziram cada porca e parafuso dos mesmos;
· à mãe natureza pelo petróleo utilizado na produção do combustível que move o trator, o caminhão e o carro;
· aos que trabalharam na sua extração, refino e transporte do petróleo;
· a Thomas Edison pela invenção da luz elétrica que propicia a automação de todos os processos produtivos;
· aos que fabricaram os postes, fios, lâmpadas, computadores etc etc etc.

Lá pelas tantas cheguei à conclusão que, se com atenção fosse desdobrando os procedimentos, essa lista iria longe, muito longe! E, se resolvesse agradecer também pelo feijão, pela carne, pelas verduras e legumes que também estavam à mesa, pela cadeira em que estava assentada, pelo local em que me encontrava comendo, demoraria uma eternidade para fazê-lo.

Anteriormente, nunca havia parado para ver que as coisas que chegam a mim, aqui e agora, custa ou custou muito trabalho, empenho e investimento de outros. Todos os que me educaram sempre se preocuparam muito em me ensinar a agradecer. Mas hoje vejo que eles me ensinaram o que haviam aprendido. Eles me ensinaram a dar o agradecimento social.

O agradecimento social é válido, entretanto é um proceder mecânico porque agradecemos por agradecer. Quando dizemos “muito obrigada” a uma pessoa, muitas vezes, pensamos até que ela não fez nada mais do que a sua obrigação, e que, de fato, nem precisaríamos agradecer. E mais, é até comum sentirmo-nos muito bondosos e educados porque o estamos fazendo.

Hoje compreendo que se parasse para agradecer por este exato momento que vivo, pelo privilégio de estar confortavelmente assentada em um local limpo, bem equipado e bem decorado, ouvindo uma música suave, utilizando um “notebook” para escrever, tendo um copo de água ao meu lado e café à minha disposição, nem posso imaginar quanto tempo gastaria, talvez dias.

Cheguei à conclusão que nossa cegueira é tanta que não temos a menor noção do que recebemos na vida. Ao contrário, somos capazes de passar uma vida inteira valorizando os momentos que nos causaram incômodo ou dor.

Um comentário:

Dani Guima disse...

O link para continuar a ler mais do texto não está funcionando. Já li os dois livros da Lúcia, e vários outros textos. Além de escutá-la em momentos inspiradíssimos. É uma amiga-irmã que mora no meu coração. Parabéns pela força e perseverança de trilhar esse caminho. Graças, Lúcia, por ter passado na minha vida. Beijo grande, Dani Guima.