INTRODUÇAO


Estão escondidos na aurora alguns dos melhores momentos para o contato íntimo com nosso interior. Alvorada – O Despertar da Alma vai revelar, aos poucos, as experiências de 22 pessoas, na busca de estabelecer uma relação mais profunda, clara e amorosa consigo mesmas. Num gesto de boa vontade ao serviço impessoal à vida e de esforço consciente para encontrar a via de serviço do Ser aos demais. Entre nessa aventura, também...

15/04/2009

Apresentando Teresa Santa Cruz



Falar da Teresa é falar de ecletismo. Mas também de reserva...

É falar de arte, mas também de pragmatismo...

É falar de academicismo, mas também de espiritualidade...

Teresa é a própria diversidade...

Poderia até ser imprevisível, mas se mostra moderada na ação.

Assim é como sua singularidade se traduz em beleza.

Beleza que vem da sua essencialidade e que se emana, inclusive, no tom e textura da pele, no brilho repousante e travesso do olhar... no falar integrado com os gestos das mãos...

Às vezes deixa murchar seu contentamento como uma flor não regada com água fresca... mas que renasce com a primeira chuva.

Tudo isto pode descrevê-la, mas creio que ela é mais arte...
Que se entrega como professora ...

Sobre seu livro

Teresa Santa Cruz participa no livro ALVORADA com dois diferentes volumes: "Cartas ao Pai e aos Irmãos" e "Música aos Pilares".

Nesta postagem apresentaremos suas "Cartas ao Pai e aos Irmãos".

Aqui a autora revela-se na decisão de encontrar as vias para relacionar-se assertivamente com o divino; na ânsia de elevar-se, de liberar-se para o Amor. E com esta liberdade, relacionar-se com os seus semelhantes.

Dentre as cartas elegeu-se a que segue como representante do que se vislumbrou no conteúdo de seu livro. Desfrutem-na.



Querido Deus

Nunca tinha imaginado Conhecê-lo aqui mesmo, nessa vida, nesse corpo, nesse instante. Sempre o imaginava distante, ausente, desconhecido, inalcançável.
Você era a promessa adiada de tão ocupada que eu estava. Depois que...
De uns anos para cá, comecei a querer compreender como é isso de eu ser Tua filha, sem mesmo eu Te conhecer.
Sentia falta e não sabia do quê.
Pedia virtudes para viver, pedia liberação, pedia...
Um dia comecei a rever se o que eu pedia era verdadeiro, queria saber se estava fazendo as perguntas certas.
Então percebi que a maneira de pedir conservava sutilezas. Me lembrei do Absoluter, onde há o agradecimento, o recebimento e a afirmação em mim daquilo que foi desejado.
Compreendia que o receber é afirmar como potência aquilo que se deseja. Percebi que o único que mantenho em mim do passado são lembranças e que nunca são realmente aquele momento, são atualizações no presente do que foi vivido no passado. E essa memória é viva, ela muda o olhar sobre o passado de acordo com o que estou querendo rever. Existe um memória repetitiva e estéril também. Percebo-a quando alguém ou eu mesma conto uma estória de forma automática, como uma velha vestimenta, sem muito propósito, o sentimento que acompanha essa recordação é o descompasso, a repetição.
Nada do que vivi, do que li, do que sei, do que sou está fixado em mim, permanente como um sólido, parado totalmente. Essa sensação de impermanência me assustou, queria certezas, queria chegar. Chegar aonde?
Aos poucos fui entendendo que a minha forma de pensar, a estrutura com a qual baseava meu raciocínio, me levava a uma linearidade, uma temporalidade onde o fim era o meu foco. O fim como um ter algo. Chegar a algo.
Fiquei pensando: as pessoas que conheço e eu mesma, quando chego a algo – a conclusão de um projeto, a aquisição de um objeto – eu não os penso ou sinto como um fim, eles são sempre meios para que eu esteja bem.
Então, eu quero estar bem. O que é estar bem? Se não são as coisas que posso possuir ou as virtudes que posso ter, então o que me faz bem?
Descobri que não se trata de possuir, que meu problema ao pensar no devir era imaginá-lo como conquistas materiais ou de qualidades da alma. Querer ter tais e tais qualidades, relacionamentos ou coisas, tudo me projetava para um futuro, mas fazia meu presente ser vivido como falta, como privação.
No desejo de que eu venha a ser algo, sem perceber eu me adio. Coloco longe o dia que serei e assim esqueço que não se apreende bondade, leveza, coragem. As virtudes são em nós, se atualizam ou não de acordo com nossa permissão.
Quanto nos permitimos não controlar as situações, sem estar totalmente inconscientes delas?
O estado que desejamos atingir é um estado de baixa oscilação. A palavra que acho que melhor ilustra essa imagem é atravessar. Quando compreendemos que somos passageiros nessa vida, quando compreendemos que nossos “eus”, nossos corpos são transitórios, isso nos habilita a nos esforçarmos para aumentar em nós a única coisa que é sem mesmo nós desejarmos, a vida. A vida é em mim. Eu estou viva antes mesmo de ter consciência da vida em mim.
A vida que é potência e ação simultaneamente é Deus, És Tu Mesmo. Ele contém em si mesmo tudo que existe. E tudo que existe habita o Deus, que vai sendo infinitamente em nós. O que não somos é por medo, por equívoco. Esforçamo-nos tanto para manter a vida previsível, sob certas condições, que na maioria das vezes perde-se o tom, e o que era precaução se torna medo e prisão.
Mas se somos potencialmente infinitos, porque não posso fazer tudo?
O ser é ilimitado, mas o ser em nós só se expressa dentro de limites. Do contrário não haveria linguagem, não haveria humanidade, seríamos anjos.
A materialidade do mundo, o corpo que nos habituamos, suas convenções e sua mortalidade, fazem nossas personalidades crer que finalizam aqui. Mas a alma é imortal, ela é junto Contigo essa vida anterior e posterior à própria humanidade.

Compreender que o ser necessita de limites para atuar em nós nos conforma, nos dá forma. Nos inclui no mundo visível que é sustentado pelo mundo invisível. Nossos desejos passam para uma outra categoria, porque já somos, já agimos.
Quais são então as ações do ser? Aonde elas nos levam?
Nossas ações são tarefas coordenadas com o mundo invisível, são pleitos para acionar em sincronicidade com o plano da humanidade e do planeta Terra. O que desejo já se aproxima da realização, porque meu desejo é ser atravessado por Ti Pai, sendo virtuosa Contigo, comungo do devir hoje mesmo.
Tu, Pai, me usas e deixando-me habitar em Teu amor, aprendo também a usar-me, a usar a matéria como travessia. E de repente o mundo inteiro está disponível, está aberto para interagirmos. As pessoas, os caminhos, a terra se abre, se prontifica para que se cumpra Seu propósito.
Todos anseiam funcionar. Todas as pessoas que conheço desejam viver em uníssimo com a vida que lhes circunda. Os dias que tudo flui valem por anos de espera. Cobrem todo o vazio com um sentido interno e eterno, que faz a vida ser digna. Mas, por que não sentir essa conexão diariamente?
É uma questão de constância consigo mesmo. Não encontraremos fora a atualidade de nossa recordação. O outro nos ajuda, nos inspira. Mas é sozinho que precisamos atingir a Fonte que nos proverá sentido. A missão é essa capacidade de se servir, de responder aos questionamentos de minha alma, é buscar a resposta, é ser fiel a si mesmo, como canal, delegar poder e glória a Ti Pai e saber que ao vivermos sob Tuas Leis, a missão se cumpre, porque usaremos nossas personalidades, nossa matéria, a matéria do mundo para aumentarmos nossa potência de ser Contigo, nos aproximando do tempo em que nos ocuparemos apenas de Sermos.
Enquanto humana ainda viverei mais intensamente esse dia de hoje, onde eu sou a vida, a presença inumana daquilo que eu sou.



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Um comentário:

Teresa disse...

Querida Zilney,

Que honra participar dessa sua iniciativa de publicar nossa experiência de irmandade, de amizade.

Quantas coisas maravilhosas fomos testemunhas e que bom que o Alvorada
pode registrar parte dessa nossa jornada!!!